Artigo

O Teste de Turing – Uma reflexão sobre o filme Ex Machina, de Alex Garland.

Ex Machina

PARTE I

Antes de entrar na historia do filme, é importante saber um pouco sobre o que é o Teste de Turing e seu criador.

Alan Turing, foi um importante matemático britânico, membro da equipe de Bletchley Park, equipe de cientistas, “ultra secreta” do governo inglês, especializada em “quebrar códigos”, especialmente os da temível Enigma, maquina que possibilitava aos nazistas toda a comunicação criptografada, durante a Segunda Guerra Mundial. Dizem os especialistas, que graças à Maquina inventada por Turing, chamada Bomb, uma espécie de calculadora eletromecânica, foi possível aos Aliados vencerem a guerra de forma mais rápida. Sua historia pode ser vista no filme  – O jogo da Imitação de 2014.

Turing, em seu artigo de 1950,  Computing Machinery and Intelligence”,  introduziu o teste,inspirado em um jogo da época Vitoriana, que consistia em tentar adivinhar se era homem ou mulher que estava escondido em uma sala. No seu teste, Turing imaginou que ao invés de um homem e uma mulher interagirem com um juiz, uma dessas pessoas fossem substituídas por uma máquina, onde o juiz faria perguntas e teria as respostas a partir de um teclado e, depois de um tempo, este teria que dizer qual dos dois era a maquina e qual o humano. Passar no teste significaria que a máquina foi confundida com o humano.

Hoje, este ainda é um dos testes mais usado pelos programadores e ascetas do Vale do Silício, com o objetivo de descobrir se uma inteligência artificial é inteligente a ponto de enganar um  humano, se uma maquina pode pensar, se tem consciência, ou seja, o teste consiste em observar a capacidade de uma máquina em exibir um comportamento equivalente ao de um ser humano.

No filme Ex Machina  – o teste é feito a partir de uma premissa um pouco diferente… E se o juiz pudesse ver e interagir pessoalmente com a inteligência artificial (IA),  mesmo tendo ciência que não é um ser humano de verdade, será que a maquina passaria no teste?

Esta é a proposta deste filme.

O thriller começa com o jovem Caleb vencendo o concurso interno, cujo premio é passar uma semana com  Natan, o gênio e CEO da empresa para qual ele trabalha.

Ao chegar ao local, um laboratório subterrâneo, com toda estrutura tecnológica, no meio de uma floresta, ele é recebido pelo próprio Natan que revela estar trabalhando em um projeto de um Robô humanoide feminina, dotada de inteligência artificial, chamada AVA e que Caleb foi escolhido para ser o Juiz do Teste de Turing.

A partir dai se desenrolam varias interações entre Caleb e AVA com perguntas, respostas e avaliações das respostas, é tudo  tão incrível, a ponto de ser possível notar traços de empatia, sexualidade e consciência. As semelhanças entre as reações humanas e as expressões de AVA, deixam Caleb bem impressionado.

Devido a personalidade de Natan oscilar entre genialidade e excentricidade, Caleb fica meio na defensiva com ele,  isso fortalece seu vinculo com AVA.

No desenrolar do filme, AVA cria situações de intimidade com Caleb ocasionadas por apagões no sistema elétrico do local, provocados por ela. Nestes momentos, Ela tenta alerta-lo sobre a manipulação de Natan. Instigando-o a descobrir as reais intenções de Natan em relação a Ela.

Vale ressaltar que a relação de Natan com AVA é de criador e maquina, pra ele é apenas um objeto, uma maquina como outras que ele já havia criado, portanto, não possuía vínculos emocionais.

Porém,  Caleb se apaixona por AVA e acha que ela está apaixonada por ele, e por isso se arrisca a ajuda-la, bolando um plano para que ambos pudessem se libertar de Natan.

Ao descobrir o plano, Natan revela a Caleb que o verdadeiro teste era ELE, e que na verdade AVA foi instruída/programada para convencer ele a ajuda-la a se libertar, senão teria o mesmo fim que os protótipos anteriores, a obsolescência. O que acontece com a maioria das maquinas.  No teste ela era como “um rato em um laboratório” com uma única saída – E que para conseguir fugir,  ela teria que usar: autoconhecimento, imaginação, manipulação, sensualidade e empatia! 

E, no final das contas AVA passou no teste?

Em certo momento do filme ele cita uma famosa frase “Eu me tornei a morte, a destruidora de mundos”  de Oppenheimer, o criador da Bomba atômica e que o mesmo teria dito após o primeiro teste da Bomba.

Bom, chega de spoilers, recomendo que veja o filme, é um dos melhores que já vi sobre esse tema!

As questões que o filme aborda,  são muito recorrentes na atualidade, que vão desde o uso da tecnologia de forma benéfica ou não para a humanidade, até a diferenciação entre seres humanos e maquinas  e isso nos provoca vários questionamentos:

– As maquinas poderiam pensar como seres humanos?

Turing diria: “a questão é que esta é uma pergunta estúpida, é claro que as maquinas não podem pensar como os humanos,  uma maquina é diferente de uma pessoa, portanto,  pensam de forma diferente. A questão interessante seria:  Por alguma  coisa pensar diferente de você, não significa que ela não pense!”

Harari, Y.N.  postula em seu livro Homo deus,  que grande parte da motivação de Turing  seria a replicação de um teste ao qual todo homossexual tinha que se submeter na Inglaterra de 1950. E que ele sabia que não importava realmente o que você é –  e sim o que os outros pensam sobre você.

O fato é que ele acabou sendo preso por ser homossexual, sendo submetido à castração química, acabou deprimido e sem esperança,  suicidou-se  aos 42 anos de idade, devido a  ingestão do veneno cianeto.

– E o que realmente é consciência? 

– Consciência é algo que possa ser “algoritmizado”?  

Vamos investigar mais atentamente na parte II deste artigo.

Por Edna Barbosa.

Trailer oficial do Filme

Publicado em: 25 de março de 2020

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